O sistema político é muito presente em tudo, no dia a dia dos cubanos, na forma como levam a vida, em suas conversas, no embargo econômico que influencia diretamente o que podem e o que não podem fazer, o que podem ou não comprar. É claro que quando você conversa com as pessoas mais novas elas não falam muito da revolução, mas vale muito a pena conversar com as pessoas que passaram por ela para tentar entender melhor esse modo de vida tão diferente do nosso.
Leva um pouco de tempo pra entender a cultura cubana – no começo a gente se incomoda um pouco, com gente pedindo coisas o tempo todo (caneta, sabonete, roupas… E não necessariamente pessoas pobres), com todo mundo falando com você na rua (conhecer gente é ótimo, mas o difícil é saber quando eles querem só conversar mesmo, ou se querem dar um jeito de ganhar algum com isso), com os homens mexendo com as mulheres 100% do tempo (é impressionante… Você pode estar toda largada, de shorts e camiseta, mas por onde você passa ouve cantadas!), com as casas e ruas todas zoadas (sabendo que Havana já foi tão bonita e cultuada como Paris)…
Enfim, pra se acostumar com isso e entender melhor porque as coisas são assim, só tem um jeito: aprender sobre a história cubana, seja nos museus ou conversando com as pessoas de lá!
E quando você começa a se sentir parte dessa cultura, enxerga tudo com outros olhos – vê como os cubanos são simpáticos e receptivos, como gostam de conversar e conhecer gente de fora (como sair do país é muito difícil pra eles, essa é a única forma de aprenderem mais sobre os outros países), o quanto gostam de brasileiros (principalmente para falar das novelas que passam lá – em out/12 estavam passando Passione e Por Amor!), e que o costume de pedir o tempo todo é cultural, e não apenas necessidade (lá é super normal as pessoas se ajudarem, trocarem coisas ou darem para as outras quando precisam).
O país é cheio de contrastes – era de se imaginar que no socialismo todas as pessoas deveriam ter mais ou menos o mesmo padrão de vida, mas a verdade é que muita gente se aproveitou da implantação do sistema e ganhou dinheiro com isso. Ao mesmo tempo, todos têm acesso à educação de qualidade, saúde, esporte e cultura – há um grande investimento nesses setores por lá. É uma forma muito diferente e interessante de encarar a vida – não é preciso ter vários bens e propriedades para se estar bem.
Outro ponto interessante de Cuba é que é super quente – seja no clima (mesmo no inverno faz o maior calorão, só chove mais e podem ocorrer furacões), ou no jeitão do povo – eles são super calientes, sexy, cuidam do corpo, usam roupas justas e coloridas (até as policiais usam calças apertadas!), expressivos, e até meio over (é normal ver casais se engalfinhando na rua, e ninguém faz nada…). As danças são super sensuais também, com rebolation e esfregation o tempo todo, principalmente no reggaeton (lembra o funk carioca).
Ir pra Cuba é quase uma viagem no tempo – por onde você anda vê zilhões de carros antigos (desde os mais bacanudos até Ladas caindo aos pedaços), casas e hotéis com uma decoração que não se vê há anos (nos hoteis mais chiques você se sente em filmes clássicos, tipo Audrey Hepburn), e a praticamente ausência de internet (até tem, mas é bem lerda – acesso discado! – e super cara, tipo 10 CUCs/hora). Bem vindo ao passado!
O QUE CONHECER POR LÁ
É legal reservar pelo menos uns 10 dias pra conhecer Cuba, se você puder. Com esse tempo não dá pra conhecer a ilha toda (pra ir também pro lado oriental é melhor ter mais tempo), mas pelo menos as principais cidades.
A porta de entrada pra quase todo mundo que vai pra Cuba é Havana, que sem dúvida é imperdível! A cidade é grande e super bacana, com lugares bem interessantes, como o centro histórico (Habana Vieja), o Malecón (muralha), o Vedado e a Praça da Revolução. É legal ficar em casas de família, porque aí você conhece de perto a cultura e dia a dia cubanos.
Uma cidadezinha bem bacana, pequena, rural, é Viñales – lá você pode fazer passeios a cavalo, conhecer as fazendas de tabaco e ver como se faz o charuto, e ainda ver umas cavernas.
Trinidad é muito legal também – histórica, cheia de casas antigas e ruas de pedra (lembra Paraty), bem bonita, mas também muito turística. Na região tem passeios ótimos, como cachoeiras, praias paradisícas e vales de engenho. Ah, lá tem opções bem legais para a noite também, como uma balada dentro de uma caverna!
Santa Clara é destino de muitos viajantes, principalmente para conhecer o Museu do Che (a batalha da Santa Clara foi super importante para a revolução) – fora o museu, a cidade não tem nada demais.
E pra ficar em um oásis de tranqüilidade no meio da loucura das cidades turísticas cubanas, não perca Remédios! A cidade é super pequeninha, sossegada, charmosa, com uma pracinha onde o pessoal fica sentado conversando, vendo o “movimento” e jogando dominó.
Remédios é escolhida por muitos viajantes para ir para o Cayo Santa Maria e Cayo Las Brujas, que são ilhas com praias super bonitas e que ficam ali por perto.
Um dos destinos mais turísticos de Cuba é Varadero, onde tem vários resorts e praias muito bonitas também.
Se tiver mais tempo de viagem, vale a pena conhecer o oriente Cubano, que é bem bonito também – as principais cidades são Camaguey, Santiago de Cuba e Baracoa.
DINHEIRO / QUANTO LEVAR
Após a ruptura e guerra com os EUA, foram criadas diferentes moedas em Cuba: o CUC, que equivale a 1 dólar, e a Moeda Nacional, que vale muito menos e é a principal moeda usada pelos cubanos no dia a dia (1 CUC = 25 pesos).
Para a maior parte das coisas você vai precisar usar CUCs, mas dá pra trocar uma parte por moeda nacional – pra dar uma referência, troquei 20 CUCs por pesos (deu 500 pesos) para usar durante 14 dias de viagem. Os pesos você pode usar para pegar ônibus, comer nas pequenas lanchonetes que as pessoas têm nas janelas das casas, comprar coisas em mercados para cubanos etc.
Quando for comprar alguma coisa, fique esperto, porque eles chamam de peso tanto o CUC quanto a moeda nacional, então é fácil você achar que alguma coisa é bem barata e no final ser uma facadinha… Aos poucos você pega a manha do que é CUC e do que é MN!
Cuba não é um país barato, mas dá pra gastar menos do que se imagina. Os principais custos que você precisa levar em conta são a hospedagem (média de 15 CUCs/dia por pessoa em casa de família, dependendo de você viajar sozinho ou acompanhado – sozinho é mais caro), refeições (dá pra considerar 13 CUCs/dia, contando café, almoço e janta – podendo gastar menos comendo nas lanchonetinhas) e viagens entre as cidades (média de 15 CUCs a cada 200 km) – sendo que 1 CUC = 1 dólar. Calculei uma média de 50 dólares por dia, mas gastei menos que isso.
Ah, uma coisa importante: não leve dólares para trocar lá, eles cobram uma taxa de 10% em cima! Leve euros, é melhor. E a maioria dos lugares não aceitam cartão – tem algumas máquinas para sacar dinheiro em Havana, mas são pouquíssimas – é muito mais fácil levar em dinheiro mesmo.
As casas de câmbio são chamadas de Cadecas por lá, tem várias pela cidade (todas com a mesma taxa de câmbio), principalmente nas regiões mais turísticas. Não troque muito dinheiro no aeroporto quando chegar, pra variar o câmbio deles é pior do que o das Cadecas.
ONDE FICAR
Minha ideia era me hospedar pelo Couchsurfing, como fiz na Colômbia, mas em Cuba as pessoas precisam pagar uma taxa para o governo para receber pessoas em suas casas. Grande parte das famílias paga essa taxa e aluga um quarto para viajantes, no estilo B&B.
As casas são cadastradas em sites como Casa Particular Cuba e tem uma placa na frente (“Arrendador de Divisas”), mostrando que são casas oficiais. A maioria cobra um preço padrão por quarto (média de 30 CUCs – 60 reais), independente de você estar em 1, 2 ou 3 pessoas (o que complica um pouco para quem viaja sozinho…). Mas você sempre pode negociar, viajei sozinha e consegui pagar sempre 15 CUCs por diária, ou às vezes até 10, dividindo o quarto com mais alguém que apareceu por lá.
Algumas casas também oferecem refeições, a média de preços é 3 CUCs (6 reais) pelo café da manhã, e 5 CUCs (10 reais) por almoço ou janta.
Ah, você não precisa reservar todas as casas das cidades que vai conhecer antes de ir pra lá, é mais fácil reservar só a primeira (às vezes pedem essa reserva na imigração, ao entrar no país), e ir pedindo indicação nas próprias casas onde você for ficando. É bom porque aí você já pede a indicação de uma casa na mesma faixa de preço da anterior!
Se quiser posso passar os contatos das casas onde fiquei em Havana, Viñales, Trinidad e Remédios, todas foram ótimas, com famílias bem atenciosas, e com bons preços!
COMO CHEGAR
Tem várias cias aéreas que têm voos até Cuba, principalmente até Havana. Como fui pra Colômbia e Cuba na mesma viagem, fiz pela Avianca, que é uma ótima empresa colombiana (o vôo para Havana faz escala em Bogotá). Pelo que ouvi dizer, a Cubana tem bons preços (mas parece que os aviões são meia boca).
VISTO
Essa é uma dúvida que muita gente tem – inclusive no site do consulado cubano informam que você precisa tirar um visto pra entrar no país. Mas se você for fazer uma viagem de menos de 30 dias, não precisa disso não – o que você tem que fazer é pagar uma taxa de 18 dólares para a própria cia aérea, quando for fazer o check-in, pela Tarjeta de Turismo.
Ah, e tem que pagar pra sair do país também… São 25 CUCs (uns 50 reais), reserve esse dindin pra isso!
Nenhum comentário:
Postar um comentário