A GOL encontrou uma maneira inovadora e polêmica para reduzir custos e
tentar reverter os prejuízos que vem registrando. A partir de agora a
companhia vai pagar um bônus salarial a pilotos e comissários de bordo
se eles economizarem combustível. A informação foi publicada pelo jornal
Folha de S. Paulo, que teve acesso a um comunicado interno da empresa.
Datado
de 27 de fevereiro, ele diz que a meta é economizar 700 toneladas de
combustível por mês. Para isso, seria preciso reduzir em 40 segundos o
tempo de cada voo e manter 55,1% dos voos sem atraso. Se a meta for
atingida, a GOL economizará R$ 1,9 milhão por mês, dos quais R$ 820 mil
serão divididos entre pilotos e comissários. Isso dá 3,3% a mais no
salário mensal, para os pilotos; o primeiro pagamento será em julho.
O
combustível é o maior gasto de uma linha aérea. Na GOL, são 43% das
despesas. O resultado, segundo a empresa, poderá ser obtido com algumas
medidas, como não acionar o reverso (dispositivo que ajuda a frear) em
aeroportos com pistas mais longas, como Cumbica (Guarulhos), se elas
estiverem secas. Um avião é preparado para pousar sem o reverso. Em
Congonhas e no Santos Dumont, de pistas mais curtas, o procedimento é
proibido.
Os pilotos foram encorajados também a pedir ao controle
de tráfego aéreo rotas mais diretas entre um destino e outro, o que
acelera a viagem. Nem sempre é possível, em razão do movimento. Isso
ocorre porque no Brasil nem sempre os voos não são feitos em via reta
entre os aeroportos de origem e destino, mas seguem rotas determinadas,
as aerovias. Além disso, devido à superlotação de alguns terminais, não
é raro que os pilotos sejam o obrigados a sobrevoar por algum tempo
antes de receber autorização para pouso, o que aumenta o gasto com
combustível. Outra ação foi incentivar que o avião desça de maneira mais
direta possível da altitude de cruzeiro (12 mil metros) até o pouso.
Era comum o avião descer em degraus.
Essas ações de economia são
aplicadas em outras empresas do mundo todo, como a Lufthansa – sem o
bônus. A empresa alemã disse que não recorre à bonificação por questões
de segurança – para não envolver o piloto em uma questão econômica. As
companhias dos EUA tampouco pagam bônus. A Folha consultou a American
Airlines, a United, a US Airways e a Southwest. A Continental, hoje
incorporada à United, chegou a fazê-lo entre os anos 1980 e 1990.
Abandonou a ideia, entre outras razões, por constatar o mau uso da
medida pelos pilotos, como voar mais lentamente ou desligar o
ar-condicionado da cabine.
Entre analistas de segurança de voo,
não há consenso. Alguns afirmam que o bônus abre um precedente que, no
limite, pode levar um piloto a tomar decisões baseadas não só na
segurança mas também no que ganhará se poupar combustível. Outros
especialistas, mais a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil),
afirmaram ao jornal que não existe risco se os procedimentos de
segurança forem seguidos. A GOL também nega que haja risco e diz que os
pilotos são bem treinados e que monitora os voos para detectar eventuais
desvios. A companhia afirma ainda que, entre economia e segurança, a
prioridade será sempre a segurança. Além disso, as metas são coletivas e
não individuais.
Entrevistado
pela Folha, o vice-presidente técnico da GOL, Adalberto Bogsan,
garantiu que as metas de economia de combustível não põem em risco a
segurança de voo. Ele diz que a proposta de bônus foi antecedida de
análise, durante 13 meses, de voos da empresa, para identificar os
pontos de economia.
Também foi acompanhada durante todo o tempo pela
diretoria de segurança da GOL. A iniciativa só saiu do papel, diz,
porque a conclusão foi que não causava riscos. E que, entre a economia e
a segurança, sua prioridade será sempre a segurança.
Outro fator a
contribuir para a segurança, diz Bogsan, é que as metas não são
individuais, mas coletivas, de modo a evitar que um piloto se arrisque,
por exemplo, para bater a meta. Os tripulantes só terão acesso aos dados
do voo no mês seguinte. Assim, não conseguem saber, no mesmo mês em que
estão voando, se atingiram a meta ou não. O vice-presidente afirma que a
intenção do projeto, no futuro, é transformá-lo em um PLR (Participação
nos Lucros e Resultados).
Leia a matéria completa no site da Folha de S. Paulo
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